terça-feira, 28 de dezembro de 2010

SONHA TAMBÉM

Há dois mil anos Deus sonhou
E foi
Natal em Belém.
Sonha também.
Se o jumento corou
E o boi se ajoelhou,
Não deixes tu de orar também.

1. A notícia ecoou nos campos de Belém. Com o celeste recital que ali se deu, o céu ficou ao léu, a terra emudeceu de espanto, e os pastores dançaram tanto, tanto, que até os mansos animais entraram nesse canto.

2. Isaías 1,3 antecipou a cena, e gravou com o fulgor da sua pena o manso boi e o pacífico jumento comendo as flores de açucena da vara de José sentado ao lume, e bafejando suavemente depois o Menino de perfume. Enquanto os meigos animais vão comer à mão do dono, o meu povo, diz Deus, não me conhece, e perde-se nos buracos de ozono.

3. Nos campos lavrados passeiam cotovias, ondulam os trigais, e vê-se Rute a respigar o trigo ao lado dos pardais. Que estação é esta que reúne as estações e os anais? Abre-se ali num instante um caminho novo. Vê-se que passam Maria e José e o Menino, que salta logo do colo e suja as mãos na terra, tira da sacola estrelas todas de oiro, e semeia-as na terra com carinho.

4. Anda à sua volta um bando de boieiras, leves e ledas companheiras, correndo no mesmo chão de oiro semeado. E nós continuamos a passar ali ao lado daquela sementeira toda de oiro, que o Menino pobre acaricia, e logo se transforma em trigo loiro. Ninguém pára, ninguém acredita que o Menino pode ser dono de um tal tesoiro.

António Couto

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

D.José...velhinho José...menino José...

Servo bom fiel, entra no gozo do teu Senhor

1. Já não sei, amigo, quando te conheci pela primeira vez.
Mas sempre te conheci velhinho e sábio. Como um menino. Velhinho não rima com ciúme ou azedume, mas com carinho. Sempre te conheci assim: próximo, afectuoso, sempre a inventar maneiras de ajudar.
Sábio foste, certamente temperado pelo amor da sabedoria, mas mais, muito mais, pela sabedoria do amor.
Velhinho e sábio como um menino, porque me parece que seguiste exactamente a trajectória do Evangelho: «Se não vos tornardes como as crianças, não entrareis no Reino dos Céus». É assim que te vejo, amigo, velhinho como um menino, que ri, brinca, teima e sonha. Parece-me, por isso, que te sentirás em casa no Reino de Deus, onde seguramente estarás a contar histórias, a recitar terços sem conta, a repassar as bem-aventuranças uma a uma e as muito mais do que catorze obras de misericórdia. Fica-me apenas uma dúvida: contigo aí no céu do bom Deus a entreter os anjos, pode acontecer que fiquemos nós aqui na terra mais desprotegidos.

2. «FELIZ o homem (…) que a instrução do Senhor recita dia e noite, com prazer» (Salmo 1,1-
2).
FELIZES, FELIZES, FELIZES, felicitação nove vezes repetida (Mateus 5,3-10), como se uma vez
não bastasse para dizer quanto Deus ama os pobres e os que têm um coração cheio de bondade e
mansidão! FELIZES os pobres de espírito, não de Espírito Santo ou de inteligência, mas os que não têm espaço nem alento próprio, e tudo têm de receber sempre de ti, bom Deus e Pai. FELIZES os que vivem ao ritmo do teu alento, do teu vento criador e embalador. FELIZES, FELIZES, FELIZES – ’ashrê, ’ashrê, ’ashrê – na língua hebraica. Mas ’ashrê significa ainda, e talvez sobretudo, pioneiros, abridores de caminhos novos e belos e floridos, como aqueles que tu, bom Deus, abriste e continuas a abrir na aridez dos nossos desertos!

3. D. José, velhinho José, menino José, tu foste um pioneiro, um abridor de caminhos no mundo
da missão. Apareceste por graça neste mundo em 16 de Abril de 1913, por graça entraste no então
Colégio das Missões de Tomar em 14 de Outubro de 1925, por graça recebeste a ordenação sacerdotal em 25 de Julho de 1938, por graça embarcaste em 13 de Novembro de 1945 no porto de Leixões rumo às Missões de Moçambique. Por graça fizeste, ou alguém fez por ti, florir a bela e querida Missão de Mutuáli, um brinde, um oásis no deserto. Por graça recebeste a ordenação Episcopal em 16 de Junho de 1957, e por graça foste o primeiro Bispo da recém-criada Diocese de Porto Amélia, actual Pemba.
Foste pioneiro. Como missionário, foste pioneiro. Semeaste e regaste o chão africano, ergueste um Seminário (o primeiro de Moçambique), fundaste a primeira Congregação Religiosa de Moçambique (as Filhas do Coração Imaculado de Maria), levantaste internatos, centros de saúde e escolas de formação onde se prepararam muitos e bons catequistas. Semeaste, alimentaste e regaste o chão e a alma do bom povo moçambicano que o bom Deus te confiou. Foste um pioneiro, amigo e irmão, pobre e santo.
Por paradoxal que pareça, sempre foram os Santos e os Pobres que abriram caminhos novos neste mundo desertificado, enlatado, dormente e anestesiado em que vivemos.

4. Nas circunstâncias difíceis da guerra e da violência, não ficaste deitado à beira da estrada,
como os «cães mudos» sonolentos e embriagados de Isaías 56,10. Não o podias fazer, tu, sensibilíssimo amigo e pastor atento, quando os teus filhos sofriam. Intervieste, surpreendeste, teimaste, exigiste. A tanto te obrigava o teu coração de Pai e de menino irreverente, mas sempre sorridente.

5. Não tenho dúvidas de que o bom Deus estava contigo e te amparava. Gostava de ti, estava
contigo. Quando tu não querias participar nas sessões do Concílio II do Vaticano, forçou-te a ir, para te salvar de outra maneira. Adoeceste gravemente, e passaste grande parte do Concílio no hospital. O bom Deus ainda te queria no meio de nós por muito tempo. O teu sorriso e a tua ternura e premura eram ainda necessários para continuares a dizer e mostrar Deus na tua terra natal, Aldeia do Souto, na Diocese da Guarda, na Sociedade Missionária que sempre amaste dedicadamente. Por todos estes lugares onde passaste após a tua resignação como Bispo de Porto Amélia em 31 de Janeiro de 1975, continuaste a fazer desabrochar flores de paz em muitos corações.

6. Saúdo-te, fiel engenheiro de Deus, D. José, velhinho José, menino José, intrépido missionário
a tempo inteiro. Como pertences totalmente ao Senhor, o Senhor é também a tua herança. És pobre e FELIZ, ó pioneiro, abridor de caminhos novos. Rezamos por ti, amigo. Intercede tu também por nós junto do bom Deus e de Maria. Mas não a ocupes com muitos terços nem retenhas contigo os anjos todos. Tu sabes que precisamos tanto de um olhar de mãe e de alguns anjos que nos assistam nos difíceis caminhos deste tempo.

Cucujães, 13 de Dezembro de 2010, memória de Santa Luzia
+ António Couto

Homilia nas exéquias de D. José dos Santos Garcia

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

VIVE A MISSÃO, RASGA HORIZONTES

Na página em branco
poisam as palavras:
amor, paz, pão, comunicação.
Na página em branco
poisam as estradas,
pontes, horizontes, escolas para o meu irmão:
hifenização.
Na página em branco
poisam os sorrisos, os sonhos, a missão:
a ternura de um Deus que quis precisar da minha mão.
Um vinco na página, uma dobra,
transforma as palavras em mensagens,
que a aragem do Espírito fará chegar a ti.
Evengelização, missão coração a coração.
Abres a página dobrada sobre o vinco:
As palavras saltarão para o teu colo,
para o teu rosto, para o teu regaço,
para o teu sorriso, para a tua mão.
Estão vivas as palavras, meu irmão,
estão vivas.
Acordam quando tu as lês,
todos os dias,
quando descobres a página, o coração,
onde dormem suavemente enternecidas.
Vai, meu irmão!
Vai, minha irmã!
Não deixes para amanhã
a beleza dos teus passos sobre os montes:
Vive a missão, rasga horizontes!
(D.António Couto)

HINO AOS LEIGOS BOA NOVA

Somos céu de esperança
onde vivemos,
e levamos estrelas cintilantes,
à noite fria,
de quem sonha olhar para lá do arame farpado,
e cantar a doce canção do sorriso partilhado.

Somos alento e denúncia
que grita aos ouvidos dos poderosos,
a brisa suave dos que pedem em segredo
a côdea de pão que a vida lhes negou.

Somos deserto e silêncio
de um Deus que canta
nas melodias das nossas mãos,
para que haja a harmonia entre os irmãos.

Aproveitamos a vida
para nela voar
e chegarmos aos olhos de quem já não chora
por não ter mais lágrimas para chorar.

Somos a revolução transformada em hinos de amor
para lavar os lençóis de vento,
que as armas da guerra sujaram com dor.

Somos laços de amizade
responsabilidade e sinceridade,
para que onde quer que estejamos haja Verdade.

Vivemos de mãos dadas
nas planícies, nos vales e nas cumeeiras,
para construirmos um mundo sem fronteiras.
                                Por Pe. João Torres

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Ser cristão é ser missionário

"...Também é preciso tomar consciência de que é toda a Igreja que é missionária, e que, portanto, ser cristão implica necessariamente ser missionário.
Que o cristão não necessita de outra vocação para ser missionário: basta a vocação que tem.
Que «cristão» e «missionário» não identificam duas figuras distintas nem duas vocações distintas, mas são qualificações inseparáveis do discípulo de Jesus.
Que ninguém pode pensar que se pode ser, em primeiro lugar, cristão, e depois, se se sentir chamado e se quiser, vir também a ser missionário.
Para o cristão, ser missionário é a sua maneira de ser, a sua identidade, a sua graça, é uma necessidade, é de fundo e não um adereço facultativo.
A sua referência permanente é Jesus Cristo, e o seu horizonte são todos os corações."
(D. António Couto)

quinta-feira, 27 de maio de 2010

"Apostai tudo na ovelha perdida"

Presidente da Comissão Episcopal das Missões lamenta indiferença relativamente aos fiéis que abandonam as comunidades eclesiais
D. António Couto, bispo auxiliar de Braga, lamenta que a Igreja Católica esteja a dar mais atenção à quantidade de fiéis do que à situação de cada um: “Infelizmente, para nós conta a estatística, os números, e não as pessoas”.
“Quando um irmão deixa de frequentar a Igreja, ninguém pergunta por ele. É importante que os nossos irmãos se sintam amados. Aqui tendes a missão que nunca mais acaba. Mas, é necessário conhecer a pessoa pelo nome”, afirmou aos cerca de 100 participantes no “Fórum Missionário” realizado em Coimbra, a 22 de Maio.
“Apostai tudo na ovelha perdida”, “nem que para isso percam um mês, um ano ou uma vida inteira”, pediu o prelado, que acrescentou: “O trabalho, hoje, é de um a um”.
Na intervenção que proferiu sobre “A missão da Igreja nos escritos do Novo Testamento”, o presidente da Comissão Episcopal das Missões falou da urgência de usar a “linguagem dos afectos”, “tocando os corações dos homens”.
O prelado criticou a “linguagem fria”, criadora de “distância e indiferença”, e sublinhou que é preciso “agarrar as pessoas por dentro, para as não deixar ir embora”.
No entender de D. António Couto, os “leigos são a energia nuclear do Cristianismo” por estarem envolvidos nas várias realidades da sociedade, e a Igreja precisa do seu “trabalho testemunhal”, que só pode acontecer se eles forem “iluminados, vivos, atentos e apaixonados por Jesus Cristo”.
O bispo auxiliar defende que os fiéis dedicados ao anúncio da mensagem cristã devem ser mais humildes: “Quando as pessoas nos vêem muito ricas, desconfiam de nós”, afirmou, acrescentando que “o missionário é frágil, se não for frágil é rico, se for rico não está com Deus”.
No encontro, que decorreu no Seminário Maior de Coimbra, o prelado alertou os participantes para a situação dos doentes nas unidades de saúde: “70% dos que morrem nos hospitais foram abandonados e não tiveram ninguém com quem falar”.
D. António Couto chamou também a atenção para os planeamentos organizados sem a dimensão espiritual: “Programamos demasiado e depois quando vamos para o terreno é um grande fracasso porque muitas vezes não consultamos Deus”.

(Serviço de Informação da Diocese de Coimbra / Agência Ecclesia)

sábado, 22 de maio de 2010

Que queres Tu de mim?


Sou Tua, para Ti nasci,
Que queres Tu de mim?

Majestade soberana,
Sabedoria eterna
Bondade tão boa para a minha alma,
Deus Altíssimo, Ser único, Bondade,
Repara na minha extrema pequenês,
Em mim que Te canto hoje o meu amor.
Que queres Tu de mim?

Sou Tua, pois me criaste
Tua, pois me resgataste,
Tua, pois me sustentas,
Tua, pois me chamaste,
Tua, pois me esperaste,
Tua, pois não me perdi,
Que queres Tu de mim?

Que queres Tu, pois, Senhor tão bom,
Que faça uma tão vil serva?
Que missão deste Tu
A esta escrava pecadora?
Eis-me aqui, meu doce amor,
Doce amor, eis-me aqui.
Que queres Tu de mim?

Eis o meu coração,
Deponho-o na Tua mão,
Juntamente com o meu corpo, a minha vida, a minha alma,
As minhas entranhas e todo o meu amor.
Doce Esposo, meu Redentor,
Ofereci-me para ser Tua,
Que queres Tu de mim?

Dá-me a morte, dá-me a vida,
A saúde ou a doença
Dá-me honrarias ou humilhações,
A guerra ou a mais profunda paz,
A debilidade ou a força absoluta,
A tudo Te digo sim:
Que queres Tu de mim? [...]

Sou Tua, para Ti nasci,
Que queres Tu de mim?

(Santa Teresa de Ávila)

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Pedido exigente...

"Continue esta gloriosa Nação a manifestar a grandeza de alma, profundo sentido de Deus, abertura solidária, pautada por princípios e valores embebidos no humanismo cristão"
(Bento XVI, na despedida a Portugal)

terça-feira, 13 de abril de 2010

Quem és?


Quem és, suave luz que me sacias
E que iluminas as trevas do meu coração?
Guias-me como a mão de uma mãe,
e se me soltasses
não mais poderia dar um só passo.
És o espaço
que envolve o meu ser e me protege.
Longe de Ti, naufragaria no abismo do nada
de onde me tiraste para me criar para a luz.
Tu, mais próximo de mim
do que eu própria,
mais intimo do que as profundezas da minha alma,
e contudo incompreensível e inefável,
para além de qualquer nome,
Espírito Santo, Amor Eterno!

Não és Tu o doce maná
que do coração do Filho
transborda para o meu,
o alimento dos anjos e dos bem-aventurados?
Aquele que Se elevou da morte à vida
também me despertou do sono da morte para uma vida nova.
E, dia após dia,
continua a dar-me uma nova vida,
de que um dia a plenitude me inundará por completo,
vida procedente da Tua vida, sim, Tu mesmo,
Espírito Santo, Vida Eterna!

Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein)

sexta-feira, 9 de abril de 2010

PAPA BENTO XVI - Solução da Igreja para a pedofilia...

Público, 2010-04-02 José Manuel Fernandes

Não sou crente. Educado na fé católica, passei pelo ateísmo militante e hoje defino-me como agnóstico. Talvez não devesse, por isso, pôr-me a discutir os chamados "escândalos de pedofilia" na Igreja Católica. Até porque não sei se, como escreveu António Marujo neste jornal - no texto mais informado publicado sobre o tema em jornais portugueses -, estamos ou não perante "A maior crise da Igreja Católica dos últimos 100 anos".
Tendo porém a concordar com um outro agnóstico, Marcello Pera, filósofo e membro do Senado italiano, que escreveu no Corriere della Sera que se, sob o comunismo e o nazismo, "a destruição da religião comportou a destruição da razão", a guerra hoje aberta visa de novo a destruição da religião e isso "não significará o triunfo da razão laica, mas uma nova barbárie". Por isso acho importante contrariar muitas das ideias feitas que têm marcado um debate inquinado por muita informação errada ou manipulada.
Vale por isso a pena começar por tentar saber se o problema da pedofilia e dos abusos sexuais - um problema cuja gravidade ninguém contesta, ocorram num colégio católico, na Casa Pia ou na residência de um embaixador - tem uma incidência especial em instituições da Igreja Católica. Os dados disponíveis não indicam que tenha: de acordo com os dados recolhidos por Thomas Plante, professor nas universidades de Stanford e Santa Clara, a ocorrência de relações sexuais com menores de 18 anos entre o clero do sexo masculino é, em proporção, metade da registada entre os homens adultos. É mesmo assim um crime imenso, pois não deveria existir um só caso, mas permite perceber que o problema não só não é mais frequente nas instituições católicas, como até é menos comum. Tem é muito mais visibilidade ao atingir instituições católicas.
Uma segunda questão muito discutida é a de saber se existe uma relação entre o celibato e a ocorrência de abusos sexuais. Também aqui não só a evidência é a contrária - a esmagadora maioria dos abusos é praticada por familiares próximos das vítimas - como o tema do celibato é, antes do mais, um tema da Igreja e de quem o escolhe. Não existiu sempre como norma na Igreja de Roma e hoje esta aceita excepções (no clero do Oriente e entre os anglicanos convertidos). Pode ser que a norma mude um dia, mas provavelmente ninguém melhor do que o actual Papa para avaliar se esse momento é chegado - até porque talvez ninguém, no seio da Igreja Católica, tenha dedicado tanta atenção ao tema dos abusos sexuais e feito mudar tanta coisa como Bento XVI.
Se algo choca na forma como têm vindo a ser noticiados estes "escândalos" é o modo como, incluindo no New York Times, se tem procurado atingir o Papa. Não tenho espaço, nem é relevante para esta discussão, para explicar as múltiplas deturpações e/ou omissões que têm permitido dirigir as setas das críticas contra Bento XVI, mas não posso deixar de recordar o que ele, primeiro como cardeal Ratzinger e prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, depois como sucessor de João Paulo II, já fez neste domínio.
Até ao final do século XX o Vaticano não tinha qualquer responsabilidade no julgamento e punição dos padres acusados de abusos sexuais (e não apenas de pedofilia). A partir de 2001, por influência de Ratzinger, o Papa João Paulo II assinou um decreto - Motu proprio Sacramentorum Sanctitatis Tutela - de acordo com o qual todos os casos detectados passaram a ter de ser comunicados à Congregação para a Doutrina da Fé. Ratzinger enfrentou então muitas oposições, pois passou a tratar de forma muito mais expedita casos que, de acordo com instruções datadas de 1962, exigiam processos muito morosos. A nova política da Congregação para a Doutrina da Fé passou a ser a de considerar que era mais importante agir rapidamente do que preservar os formalismos legais da Igreja, o que lhe permitiu encerrar administrativamente 60 por cento dos casos e adoptar uma linha de "tolerância zero".
Depois, mal foi eleito Papa, Bento XVI continuou a agir com rapidez e, entre as suas primeiras decisões, há que assinalar a tomada de medidas disciplinares contra dois altos responsáveis que, há décadas, as conseguiam iludir por terem "protectores" nas altas esferas do Vaticano. A seguir escolheu os Estados Unidos - um dos países onde os casos de abusos cometidos por padres haviam atingido maiores proporções - para uma das suas primeiras deslocações ao estrangeiro e, aí (tal como, depois, na Austrália), tornou-se no primeiro chefe da Igreja de Roma a receber pessoalmente vítimas de abusos sexuais. Nessa visita não evitou o tema e referiu-se-lhe cinco vezes nas suas diferentes orações e discursos.
Agora, na carta que escreveu aos cristãos irlandeses, não só não se limitou a pedir perdão, como definiu claramente o comportamento dos abusadores como "um crime" e não apenas como "um pecado", ao contrário do que alguns têm escrito por Portugal. Ao aceitar a resignação do máximo responsável pela Igreja da Irlanda também deu outro importante sinal: a dureza com que o antigo responsável pela Congregação para a Doutrina da Fé passou a tratar os abusadores tem agora correspondência na dureza com que o Papa trata a hierarquia que não soube tratar do problema e pôr cobro aos crimes.
De facto - e este aspecto é muito importante - a ocorrência destes casos de abusos sexuais obriga à tomada de medidas pelos diferentes episcopados. Quando isso acontece, a situação muda radicalmente. Nos Estados Unidos, país onde primeiro se conheceu a dimensão do problema, a Conferência de Dallas de 2002 adoptou uma "Carta para a Protecção de Menores de Abuso Sexual" que levaria à expulsão de 700 padres. No Reino Unido, na sequência do Relatório Nolan (2001), acabou-se de vez com a prática de tratar estes assuntos apenas no interior da Igreja, passando a ser obrigatório dar deles conta às autoridades judiciais. A partir de então, como notava esta semana, no The Times, William Rees-Mogg, a Igreja de Inglaterra e de Gales "optou pela reforma, pela abertura e pela perseguição dos abusadores em vez de persistir no segredo, na ocultação e na transferência de paróquia dos incriminados".
Bento XVI, que não despertou para este problema nas últimas semanas, não deverá precipitar decisões por causa desta polémica. No passado domingo, durante as cerimónias do Domingo de Ramos, pediu aos crentes para não se deixarem intimidar pelos "murmúrios da opinião dominante", e é natural que o tenha feito: se a Igreja tivesse deixado que a sua vida bimilenar fosse guiada pelo sentido volátil dos ventos há muito que teria desaparecido.
Ao mesmo tempo, como assinalava John L. Allen, jornalista do National Catholic Reporter, em coluna de opinião no New York Times, "para todos os que conhecem a experiência recente do Vaticano nesta matéria, Bento XVI não é parte do problema, antes poderá ser boa parte da solução".
Uma demonstração disso mesmo pode ser encontrada na sua primeira encíclica, Deus Caritas Est, de 25 de Dezembro de 2005, ano em que foi eleito. Boa parte dela ocupa-se da reconciliação, digamos assim, entre as concepções de "eros", o termo grego para êxtase sexual, e de "ágape", a palavra que o cristianismo adoptou para designar o amor entre homem e mulher. Se, como referia António Marujo na sua análise, o teólogo Hans Küng considera que existe uma "relação crispada" entre catolicismo e sexualidade, essa encíclica, ao recuperar o valor do "eros", mostra que Bento XVI conhece o mundo que pisa.
Por isso eu, que nem sou crente, fui informar-me sobre os casos e sobre a doutrina e escrevi este texto que, nos dias inflamados que correm, se arrisca a atrair muita pedrada. Ela que venha.

quinta-feira, 25 de março de 2010

PAI...


Estas foram as prendinhas que as minhas filhas ofereceram ao pai, no dia de S. José.
A Ana fez um marcador de livros, com um verso de sua autoria.
A Inês pintou numa tela um belíssimo retrato do pai.
O papá ficou babadíssimo... Com duas princesas como estas (e a arte na nossa casa é o pão nosso de cada dia) o que pode querer mais??? Uma boa esposa???!!!
Então, cá vai a minha homenagem.

quarta-feira, 24 de março de 2010

PAI...

É certo que dia de S. José já passou. Mas, tal como o Natal, dia do pai é todos os dias - principalmente quando o pai merece.
Aqui vai uma homenagem ao meu marido e pai - excelente - dos meus filhos.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Ricardo Araújo Pereira e a questão de Deus


Intervenção de Ricardo Araújo Pereira na mesa-redonda «Deus: questão para Crentes e não-Crentes, organizada pela comunidade da Capela do Rato (Lisboa).

"[No livro do Eclesiastes] o tempo e o acaso acontecem a todos por igual. Era uma óptima pessoa – morreu. Era uma péssima pessoa – morreu também. (...) Eu juntei uma enorme fortuna – morri. Eu adquiri imenso conhecimento – morri a seguir. Eu fui muito bom para o meu semelhante – morri. Fui péssimo para o meu semelhante – morri também.” (...) “O trabalho de humorista é fazer as pessoas rirem-se do facto de, por mais maquilhagem que ponham na cara, é àquele estado que vão chegar.”

"O momento em que se perde o filho é o único, acho eu, do qual o riso está completamente ausente. Penso muitas vezes na questão de fazer rir as pessoas que perdem um filho."


A relação do humor com a morte foi um dos aspectos centrais da intervenção de Ricardo Araújo Pereira na primeira sessão do ciclo “Deus: questão para Crentes e não-Crentes”.

“Eu acredito que quando morrer – tenho mais ou menos a ideia que isso vai acontecer qualquer dia – vou exactamente para o mesmo sítio onde estava antes de ter nascido, ou seja, lugar nenhum. E isso é uma coisa que me transtorna”, referiu o escritor, que pediu desculpa por ser “titubeante” ao falar da “não experiência de Deus”, que classificou de “bastante caótica”.

"Para nós, ateus, a morte é um sono sem sonhos e nós continuamos com um mau perder em relação a isso. Não é fácil. E por isso, onde é que eu vou buscar conforto? À Bíblia (não sei se já ouviram falar)”, disse o humorista.

Ricardo Araújo Pereira “comoveu todos os presentes” e “a sua leitura do livro do Eclesiastes mostra como a não crença integra o próprio caminho crente que a Bíblia testemunha”.

Algumas das intervenções do público no período a seguir às palestras sugeriram que as posições de Ricardo Araújo Pereira estavam muito próximas da crença cristã, o que levou o humorista a reafirmar a sua condição de ateu.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Dez Mandamentos do bom pai ou boa mãe


1. Amarás o teu filho com todo o teu coração, alma e forças mas, sensatamente, com o teu cérebro.

2. Verás no teu filho uma pessoa, não um objecto que te pertence.

3. Não lhe exigirás amor e respeito, mas esforçar-te-ás por merecê-los.

4. Cada vez que os seus actos te façam perder a paciência, lembrar-te-ás dos teus próprios actos quando tinhas a sua idade.

5. Lembra-te que o teu exemplo será mais eloquente do que o melhor dos teus sermões.

6. Pensa que o teu filho vê em ti um ser superior e não o desiludas.

7. Ao longo da sua vida, serás um sinal que o impedirá de tomar caminhos errados, dos quais dificilmente se regressa.

8. Ensiná-lo-ás a admirar a beleza, a praticar o bem e a amar a verdade.

9. Prestarás atenção aos seus problemas, quando ele julgar que podes ajudar a solucioná-los.

10. Ensiná-lo-ás com a tua palavra e o teu exemplo a amar a Deus acima de todas as coisas.



segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

«Recebestes gratuitamente, dai gratuitamente» (Mt10,8)


Quando Jesus saiu para o mar com os Seus discípulos, não pensava somente nessa pescaria. Foi por isso [...] que respondeu a Pedro: «Não tenhas receio; de hoje em diante serás pescador de homens». E também nessa nova pesca a eficácia divina não faltará: os apóstolos serão instrumentos de grandes prodígios, apesar das suas misérias pessoais.
Também nós, se lutarmos todos os dias para alcançar a santidade na nossa vida normal, cada um na sua própria condição no meio do mundo e no exercício da sua profissão, ouso afirmar que o Senhor fará de nós instrumentos capazes de realizar milagres e, se for necessário, dos mais extraordinários. Daremos luz aos cegos. Quem não poderá narrar mil exemplos de cegos quase de nascença que recuperam a visão e recebem todo o esplendor da luz de Cristo? Outro era surdo e outro ainda mudo, que não podiam ouvir nem articular uma única palavra enquanto filhos de Deus [...]: e ouvem e exprimem-se como verdadeiros homens [...]. «Em nome de Jesus», os apóstolos restituem as forças a um enfermo incapaz de qualquer acção útil [...]: «Em nome do Senhor levanta-te e caminha!» (Act 3, 6). Outro ainda, um morto, ouviu a voz de Deus como quando do milagre da viúva de Naim: «Jovem, ordeno-te que te levantes» (Lc 7, 14; Act 9, 40).
Faremos milagres como Cristo, milagres como os primeiros apóstolos. Estes prodígios realizaram-se talvez em ti, em mim: talvez estivéssemos cegos, ou surdos, ou enfermos, ou sentíssemos a morte, quando a Palavra de Deus nos arrancou à nossa prostração. Se amamos a Cristo, se O seguimos, se é apenas a Ele que procuramos e não a nós mesmos, em Seu nome poderemos transmitir gratuitamente o que recebemos gratuitamente.
São Josemaria Escrivá de Balaguer (1902-1975), presbítero

sábado, 30 de janeiro de 2010

O caminho do meio


[Comentário: IV Dom Tempo Comum. Ano – C: 31-01-2010]
Ler: Lucas 4,21-30

Disposição (pode não ser lida...)
Dizem, e é verdade existencial, que é a Palavra que nos lê a nós seus leitores (na expressão consagrada ‘Ouvintes da Palavra’). Esta meditação tem uma dimensão inaudita. Como gostava de ser eu (oh peso estúpido do eu...) seu autor. Não sou. Mas vivo assim (e já vivi e viverei, futuramente, ainda mais) tudo o que ela encerra. Só isso importa. Entretanto, intuímos que há textos fundantes (guardo alguns, poucos, debaixo dos olhos/pés da consciência). Esta meditação na minha fragilidade/fortaleza, é um desses textos-alicerce. Dom Bernardo BONOWITZ (*) roubou-me a minha Alma... Saiba porquê. Quem encontrá-La, faça favor: devolva!?

“Levaram-no até o alto do monte sobre o qual a cidade estava construída, com a intenção de lançá-lo no precipício. Jesus, porém, passou no meio deles e continuou seu caminho” (Lc 4, 29-30).

“Se a gente tenta visualizar a situação na qual Jesus se encontrava no fim do Evangelho de hoje, é muito difícil imaginar aquele meio pelo qual Ele teria passado. Que Ele passou por um aperto, isto sim, mas como é que Ele conseguiu descobrir um meio, por meio do qual pôde passar, parece quase milagroso. E, de fato, acho que podemos chamar essa ação de Jesus de seu primeiro milagre – não um milagre físico, nem um milagre “miraculoso”, no sentido de ser consequência de uma intervenção divina, mas um milagre moral.
E o que é um milagre moral? É muito importante nós sabermos, porque é mais do que provável que o milagre moral venha a ser exatamente o tipo de milagre que todos nós iremos experimentar, e mais nenhum. Um milagre moral é uma decisão, uma postura, uma atitude boa, que a princípio não seria possível em dadas circunstâncias, mas acaba sendo. Num outro texto, Jesus diz que o homem bom tira coisas boas do bom tesouro de seu coração, e é assim que o milagre moral funciona. Colocado num aperto, em apuros, entre a cruz e a espada, onde aparentemente a única opção é ser jogado no precipício, o ser humano encontra – ou melhor, cria – um espaço que não existia antes. Vivia uma situação que era destruição garantida e, de alguma maneira, percebe a linha finíssima sobre a qual pode caminhar com segurança. E toma essa linha, segue-a, e continua sua peregrinação.
Esse espaço, esse meio, é difícil, terrivelmente difícil, de encontrar. Falo como alguém que, como todo ser humano, vez ou outra já se viu forçado a identificar (na escuridão, bem entendido!) essa linha tão tênue, se quisesse sobreviver. Forçado é uma boa palavra aqui, porque é tão trabalhosa essa arqueologia de achar o “meio” a ponto de ninguém empreender esse esforço se não for forçado. Mas a vida adulta nos coloca contra essa parede, pelo menos se queremos viver segundo a nossa consciência. E para não cair no precipício – ou lá ser jogado pelos demais – temos que tirar a nossa lâmpada do bolso e, com a luz fraca da pilha, passar o raio mil vezes sobre o terreno, até que este misterioso meio finalmente se revele.
Quais são os fatores que permitem a identificação desse espaço mínimo que dá esperança para o futuro? Um é o nosso histórico – ou, podemos dizer, nosso caráter. Antigamente, no ritual da confissão, o sacerdote dizia ao penitente: Que todo o bem que fizeste e todo o mal que sofreste seja causa para ti da vida eterna. É uma frase que também se aplica a essa situação. Os anos que passamos tentando, em circunstâncias normais, fazer o bem e evitar o mal já colocaram nossos pés próximos a esse meio. Quem anda com simplicidade, anda em segurança, diz o Antigo Testamento. Aquele que busca em seu dia a dia ouvir e seguir os ditames da sua consciência não está longe da porta estreita. Talvez ele não a perceba, mas seus instintos o orientem para aquela tênue linha e impedem que, por causa da vertigem, ele caia para a esquerda ou para direita.
Um segundo fator é a aceitação de todos os fenômenos secundários de um tal momento: confusão, tristeza, tentação, um sentimento de estupidez (“Não estou entendendo xongas”), dor e tudo o mais. Esses fatores não são decisivos, embora sejam inevitáveis. Como gostaria de poder mostrar-lhes uma antiga gravura da vida de Santo Antão do Deserto, na qual ele está sendo atacado de todos os lados por esses fenômenos, simbolizados por feras e monstros. E ele, preso, olha para frente e vê um ponto de referência (isto se percebe em seu olhar) – o único ponto não tomado por seus adversários – e fixa o seu olhar lá, disposto a permanecer lá para sempre, se necessário.
E essa imagem nos leva aos últimos dois fatores. Esse olhar de Antão é a oração, a oração mais preciosa: a de angústia. Jesus, Antão, eu e você, se Deus quiser, nos lembraremos de que há um Deus e que nosso olhar pode encontrá-lo, porque o dele já nos encontrou. A única coisa que eu retive das aulas de geometria é que dois pontos fazem uma reta. Quando o meu olhar tocar o olhar dele, que vem me buscando em minha angústia, a pequena linha se formará, o meio surgirá.
Finalmente, há esta disposição de aguardar até o espaço se abrir. Não sabemos por quanto tempo Jesus ficou parado entre os cidadãos de Nazaré, até que aquele meio se manifestasse – aquele fio, aquela corda bamba. Para nós, o tempo pode parecer muito longo. Podemos passar anos em um lugar intransitável; a porta estreita pode permanecer fechada. A grande filósofa judia Simone Weil descreve aflição como dor sem fim previsto. Temos que trazer roupa quente e roupa fria, cantil, cobertor e travesseiro.
O caminho do meio não é aquele caminho aristotélico entre o excesso e defeito, a aurea mediocritas. O caminho do meio é o buraco da agulha que tem que ser cruzado por nós, camelos; é uma nova criação que surge onde antes não havia nada; surge pela graça de Deus, nossos esforços de fidelidade, nossa oração sofrida e nossa paciência custosa. Os Salmos estão cheios de homens e mulheres, tais como nós, à beira do aniquilamento. Eles gritaram ao Senhor, dia após dia e, um dia, o meio apareceu. E eles passaram pelo meio e continuaram o seu caminho em paz”.

(*) Referência fundamental: BONOWITZ, Dom Bernardo, OCSO,
Eu vou para o Pai – reflexões para a vida, Editora Vozes, Petrópolis, 2009, pp. 131-135.

P.S. Tenho as mãos com bolhas abertas...ardem; doem-me as costas...; todos os músculos pedem horizontalidade...; provei o sacrifício da “corda”. Colocamos quase 12.000 telhas em cima de 11 tesouras! Amanhã com um almoço-festa concluiremos esta etapa da Nova Igreja do Bairro do Areal. Missão é isto? Também é isto. Foi um prodígio de dedicação em regime de semi-mutirão! Exausto e quase entregue a mim mesmo. Tudo porque, efetivamente, uma vez por outra, sei escolher exatamente o “Caminho do Meio”. Urgente decidir com mais evangelho e menos eu.

“Vive para a Ternura, sem ela nada ficará limpo. Se sentes o descompasso da afetividade; a angústia orante; sombras no teu agir: aguarda com a serenidade possível e escolhe o Caminho do Meio (Lc4,29-30)”



Pedro José. [Ano Sacerdotal – Entre Aspas, nº06].

Transcreveu: Pedro José, Chapadinha, 29-01-2010. Caracteres (espaço incluídos): 6983.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

PÉROLAS DE BOLETINS INFORMATIVOS

As frases a seguir foram retiradas de boletins dominicais de Igrejas no Brasil.Por razões óbvias, as mesmas não são citadas. Vamos aproveitar, então, a leitura:
1) "No estudo desta noite nosso pastor trará a mensagem intitulada: 'o que é o inferno' venha cedo e assista ao ensaio do grupo coral."
2) "Teremos sorvetada na igreja, no próximo sábado; as irmãs que forem doar leite, cheguem mais cedo."
3) "Para aquelas irmãs que têm filhos e não sabem o berçário fica no segundo andar".
4) "Após a feijoada do próximo sábado teremos um período de meditação."
5) "Os adolescentes apresentarão no dia 1, uma peça de Shakespeare. Venha assistir esta tragédia."
6) "A irmã Laura agradece a todos os muitos irmãos que contribuíram para que finalmente ela engravidasse. Foi muito difícil, foi uma luta. Sem suas orações..."
7) "A irmã Zilda estará distribuindo Bíblias na favela na próxima terça. O diabo que se cuide."
8) "Precisamos orar intensamente pelo problema de saúde da irmã Cândida. Não tem Cristo que resolva."
9) "Os irmãos e irmãs que não sabem ler devem devolver os boletins da igreja no final do culto, assim que já tiverem usado."
10) "O novo zelador é o irmão Manuel. Não é casado, mas faz tudo que os outros mandam."
11) "O pastor viajou para o enterro da mãe do irmão Paulo. No culto cantaremos "Ouve-se o Júbilo de Todos os Povos."
12) "O diácono irmão Zaqueu convida os homens da igreja para no próximo sábado podarem as árvores."
13) "A todos os irmãos que doaram alimentos à família da irmã Lurdes a igreja agradece, ela morreu em paz."
E alguns erros, puramente de digitação, para consolar alguns:
1) "E Jesus montado na sua jamanta entra em Jerusalém...."
2) "... ao subir Jesus no pinículo para pregar...."
3) "... e aquele pobre homem deixa cair suas mulatas confiante que sairá andando ... "
4) "... e os irmãos que participarão da reunião de senhoras..."
5) "... a igreja local dever ser como um corpo, com as partes asustadas para funcionar ..."

Notícias de Malema

O tempo corre rápido quando temos um programa intenso. Mas aqui, uma semana sem acção parece uma eternidade. O programa é conhecer o terreno, as pessoas, os costumes e estudar o directório pastoral da diocese, umas palavras macuas. Estou há uma semana em Malema, ainda sãos os primeiros mergulhos. No fim de semna subimos a serra até Chuhulo, uma região em franco crescimento apesar de muito isolada.
Até à próxima.
Jerónimo

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Abraço imenso...



"Mas... Porque não fizeste nada, Senhor?
Porque as Tuas mãos e os Teus pés estão atados à Cruz pelo pecado do mundo, pela arrogância galopante do homem, e pelo meu pecado pessoal.
Misteriosamente quiseste talvez que todos víssemos que só a mudança da nossa vida, a conversão dos nossos corações ao Amor poderão destruir a Tua Cruz...
Quiseste talvez mostrar também que aí estás - SEMPRE - para acolher neste Teu imenso abraço as nossas pequenas e grandes dores, as nossas pequenas e grandes cruzes...
Amén"

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Eu sou só olhos... (2)

Eu sou só olhos...

Amigo,

Cada dia é uma surpresa. Como ainda não tenho quase nada para fazer, vou olhando. Há 6 anos que não tinha vindo a Moçambique. Mudou muito. Maputo tinha poucos carros, agora tem engarrafamentos. Tem planos. Estive numa cidade onde 25% estão infectados com HIV, desde crianças até idosos. Felizmente os anti-retrovirais são gratuitos. Mas há gente que não se trata.

Essa é a situação que temos de aceitar, amar as pessoas que vivem nela, e trabalhar para mudar um pouquinho.

Mas, para já, eu sou só olhos.

Abraços

Jerónimo